Mad nA estraDa: O Viajante e sua Mochila
Viajante:
__ Pronto, acabei! Acho que não
estou esquecendo nada.
Mochila:
__ Tem certeza? Sempre é bom dar
uma última conferida.
Viajante:
__ Pois é! Você tem razão. Aliás,
você sempre tem. Vou conferir mais uma vez. Deixe-me ver... hummm. Roupas para
o frio. Saco de dormir. Manta térmica. Uma lanterna. Um livro de poesias. Um de
“loucuras”. Um caderninho em branco para eu anotar as poesias e loucuras que
não estiverem contidas nos livros. Pronto! Está tudo ok.
Mochila:
__ Pensa bem. Tem certeza que
está tudo aí?
Viajante:
__ É claro que não tenho certeza!
Você sabe que eu nunca tenho! Ainda mais se tratando de uma viagem dessas. E
você? O que você acha que sabe? Ao invés de ficar aí apenas me olhando e
fazendo estas perguntas, por que não me ajuda e diga-me o que mais tenho de
levar?
Mochila:
__ É simples! Além do que você já
citou, o que mais você acredita que poderá lhe ser útil nesta viagem?
Viajante:
__ Ah! Acho que entendi! Mas isso
é loucura, essas coisas não caberiam na mochila.
Mochila:
__ Loucura é você estar
conversando com uma mochila! Isso sim é uma loucura! Agora venha cá, abra um
pouco mais a mochila, e coloque estas coisas que estão faltando.
Viajante:
__ Tudo bem! Vou tentar não
esquecer mais nada desta vez. Bom, certamente eu precisarei de alguma saudade.
Sei que ela machuca um pouco, às vezes, mas também sei que ela é uma das fontes
de inspiração mais autênticas que existem. Como dizia o poeta, “saudade é pra
quem tem”, e já que eu tenho, irei levá-la. Levarei também um pouco de cuidado,
afinal, nunca sabemos quando iremos precisar. Uma pequena dose de ânimo, caso,
eventualmente, este venha a faltar. Ah! Não posso esquecer-me da loucura que,
assim como o cuidado, também nunca sabemos quando iremos precisar. E para
finalizar, aquilo que não pode faltar de forma alguma, um “abridor de mente”. É
isso mesmo! Um “abridor de mente”. É que nem tudo que eu juntar pelo caminho
irá caber na mochila, então, o que não couber, eu colocarei aqui dentro, neste compartimento
extra que fica acima do pescoço. Certamente eu ficaria muito chateado se
tivesse de deixar alguma coisa pelo caminho pelo fato de a minha mente se
encontrar fechada. Pronto! Agora acho que acabei.
Mochila:
__ Olha lá! Acho que você está
esquecendo uma coisinha.
Viajante:
__ O quê?
Mochila:
__ E o medo? Você não irá levar o
Medo?
Viajante:
__ Ah! O Medo! O Medo não cabe na
mochila. Ele está aqui do meu lado o tempo todo. Fica olhando para mim e fazendo
umas caretas. Ele quer ir junto. A minha sorte é que a coragem é maior do que o
medo. Então ela ficará aqui o segurando para que eu possa seguir viagem. Depois
é torcer para que em nenhum momento o medo fique mais forte do que a coragem e
se desvencilhe dela. Bom, acho que terminei! Agora que a mochila está cheia eu
posso, enfim, fechar o último zíper de consciência e partir.
Mochila:
__ Cheia? Pode estar completa
para o momento, mas cheia, nunca. Aqui sempre se arruma lugar para mais alguma
coisa. Aqui sempre cabe um pouquinho mais de histórias e, consequentemente,
VIDA.
Então o viajante colocou sua
mochila nas costas e saiu, mas antes deixou um bilhete que dizia o seguinte: Fui encher um pouco mais a
“mochila” e já volto!
MAD