quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mad nA estraDa: Volto e não volto



Volto e não volto


Saí para voar
Saí sabendo
Que não iria voltar
Porque quem voa não volta
Este é o desafio
E mesmo quando volta,
Não volta
Pois nunca mais será
O mesmo que partiu.

MAD
(Fotos por Gilliard Lach)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Mad nA estraDa: A estupidez humana não respeita fronteiras




Mad nA estraDa: A estupidez humana não respeita fronteiras

     Para aproveitar melhor as 10 h que terei dentro de um ônibus entre as cidades chilenas de San Pedro de Atacama e Arica, resolvi escrever este texto sobre algo que chamou muito a minha atenção quando cruzei a fronteira da Bolívia com o Chile. Chamou-me a atenção o fato de algumas coisas respeitarem tanto uma fronteira.

É impressionante a diferença que se percebe entre um lado e outro. Agora, por exemplo, estou em um ônibus muito confortável, rodando sobre uma estrada boa e com uma relativa facilidade para digitar este texto. E não estou em um ônibus confortável porque paguei mais por isso, estou em um ônibus confortável porque aqui, no Chile, os ônibus que vão de uma cidade para outra são assim.

Já na Bolívia, grande parte dos ônibus estavam em condições precárias. Sem falar nas estradas, onde em muitas delas os buracos eram tantos que eu tinha dificuldade até mesmo para manter o computador no colo, quem dirá digitar um texto. Mas não precisaria nem mesmo entrar em um ônibus em cada país para perceber estas diferenças, bastaria cruzar a fronteira.

Enquanto que no lado boliviano o posto de migração é no completo improviso, no lado chileno o tal posto já é bem mais equipado. Sem falar no asfalto, que começa tão logo se passa para o lado chileno. Tudo isso analisando apenas os aspectos relacionados à infraestrutura, sem analisar as condições humanas deste contraste. Se analisarmos as condições humanas, veremos que as fronteiras limitam muito mais do que um simples ônibus confortável ou uma estrada boa. Veremos que as fronteiras limitam também oportunidades, dignidade, esperança, sonhos, enfim, limitam o direito de igualdade que todo ser humano tem perante o outro. Veremos que de um lado há um povo que sofre muito mais do que aquele que se encontra do outro lado. Não que o outro lado não sofra, mas certamente sofre menos.

Vendo todo este contraste, torna-se inevitável eu não me fazer algumas perguntas. Pergunto-me como pode uma simples linha imaginária ocasionar tamanha diferença? Ou seria apenas indiferença? Como pode estas delimitações geográficas saírem dos mapas e entrarem nas cabeças das pessoas? Como pode o ser humano ser tão limitado a ponto de permitir-se delimitar? Ao me responder estas perguntas, consigo chegar a uma única resposta: existem muitas coisas que respeitam fronteiras, talvez a estupidez humana seja uma das únicas que não.

MAD

(Foto por Gilliard Lach)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Mad nA estraDa: Carta aos senhores colonizadores



Mad nA estraDa: Carta aos senhores colonizadores

Caros senhores colonizadores,

Como os senhores tem passado? Fiquei sabendo que não andam muito bem. Pois então, algumas de suas (ex)-colônias sabem muito bem o que é isso. Aliás, elas nunca souberam o que seria o contrário. Mas, infelizmente, não podemos fazer nada pelos senhores. Para falar a verdade, venho lhes trazer outras más notícias.

Sabe aquela dívida que os senhores têm com as (ex)-colônias? Pois então, esta dívida já venceu. Na verdade, ela já venceu faz algum tempo, mas, diante da vossa situação, seremos compreensivos e, por isso, não lhe cobraremos juros. Sabemos que o vosso momento é delicado, mas como os senhores bem sabem, dívidas são dívidas e elas foram feitas para serem pagas. Não é mais ou menos assim que os senhores ensinaram?

Até poderíamos não os cobrar, como forma de gratidão por tudo àquilo que nos fizeram, afinal, vocês aniquilaram aquela cultura inútil que existia por aqui e implantaram um novo modelo que é um exemplo a ser seguido. O que seria de nós sem estas inúmeras igrejas a disposição para aliviar todos os nossos anseios? Além do mais, se um único deus já não é muito fácil de ser compreendido, imagina como seria se continuássemos a cultuar vários deuses. Por esse novo modelo de ilusão, seremos eternamente gratos a vocês.

Contudo, infelizmente, a situação também não está fácil por aqui, ou melhor, nunca esteve. Algumas de suas (ex)-colônias precisam urgentemente que os senhores paguem esta dívida. Mas não se preocupem! O dinheiro não será usado para comprar carros de luxo, roupas de grife ou joias. Asseguro-lhes que o povo daqui não irá querer ser igual aos senhores. Até porque, seria um constrangimento muito grande para os senhores verem os seus leais súditos gozando do vosso padrão. Já imaginou os “cara abajo” passando pelos senhores com a “cara arriba”? Não, não! Eles querem apenas poder pagar por um pouco mais de saúde, alimentação e dignidade. É que aquelas migalhas que os senhores deixaram já não estão servindo mais.

Portanto, senhores colonizadores, transfiram o mais rápido possível o dinheiro referente à venda de todo aquele ouro, prata e tantas outras riquezas que foram “gentilmente” tiradas destas terras. Lamento também informá-los que o prazo para o pagamento é curto. É para hoje, de preferência para ontem. É que os vossos bancos têm cobrado juros desumanos por um dinheiro que algumas (ex)-colônias tiveram de pegar emprestado. E, caso os senhores estejam ocupados demais cuidando da ponta dos vossos narizes, saibam que em uma das (ex)-colônias aprenderam a fazer cirurgias plásticas incríveis. Talvez eles possam ajudar a encontrar o formato de ponta de nariz ideal para os senhores. Há quem diga que eles também conseguem operar verdadeiros milagres naquele mundo que se encontra em volta dos vossos umbigos. Aproveitem para irem todos juntos. Quem sabe assim os senhores colonizadores até consigam um descontinho e, com o dinheiro deste desconto, possam começar a pagar tudo àquilo que nos devem.

Muito Obrigado!
Muchas gracias!

Att,
América Latina

MAD

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Mad nA estraDa: Conversando com os olhos




Mad nA estraDa: Conversando com os olhos

Era uma fria manhã de domingo na cidade de Sucre\Bolívia, quando eu e meu amigo decidimos sair para tomar um café. Como em uma típica manhã de domingo, haviam poucas pessoas pelas ruas, bem como poucas alternativas para fazer o desjejum. Por isso eu e meu amigo decidimos comprar algumas coisas no mercado público e ir até uma pracinha que havia ali perto. Assim poderíamos, enfim, degustar nosso despretensioso café da manhã dominical debaixo dos ainda tímidos raios solares.

Entre uma mordida e outra do biscoito que havíamos comprado, avistamos, do lado oposto ao nosso da pracinha, um senhor solitário, com vestes bastante batidas, também degustando um biscoito. Provavelmente aquele senhor deveria morar ali mesmo, naquela pracinha, ou em algum lugar nas redondezas.

Percebi que entre uma mordida e outra ele também nos observava com um olhar aparentemente convidativo. Assim que ele terminou de comer o biscoito, fiz aquele gesto universal que todos fazem quando querem oferecer algo, ou seja, ergui o biscoito que eu tinha na direção dele como quem diz: “vai mais uma aí?” Ele fez um discreto sim com a cabeça e eu fui até o banco onde ele se encontrava sentado e entreguei-lhe o biscoito.

Depois disso, voltei para o banco onde estava meu amigo e continuei fazendo meu desjejum. Porém, não conseguia tirar os olhos daquele senhor, e ele também continuava a nos observar. Quando nos demos conta de que ele não estava bebendo nada, fizemos mais uma vez o mesmo gesto para oferecer algo, porém, desta vez, oferecemos um iogurte que estávamos tomando. E mais uma vez ele aceitou fazendo um discreto sim com a cabeça.

Neste momento, eu e meu amigo nos levantamos e fomos entregar o iogurte àquele senhor, mas, desta vez, fizemos diferente. Perguntamos a ele se ele se importaria de dividir o banco e, consequentemente, a companhia do café da manhã conosco. Mais uma vez ele apenas balançou a cabeça afirmativamente. Até então ele não tinha dito nenhuma palavra sequer, nem mesmo um “muchas gracias”.

Da forma mais simples possível, decidi tentar quebrar todo aquele silêncio e fiz-lhe uma pergunta na qual a resposta exigiria mais que um simples gesto de sim ou não com a cabeça. Perguntei-lhe qual era o seu nome. Ele respondeu com uma voz tão baixa que se eu não tivesse esperando por alguma resposta, provavelmente eu nem a escutaria. Acredito que ele mais pensou do que vocalizou a resposta. Seu nome era Ernesto. O mesmo nome daquele revolucionário argentino que morreu anos atrás nesta mesma Bolívia.

Este Ernesto, o senhor da pracinha, não estava morto, mas o que pude perceber ao olhar fundo nos olhos dele é que ele também não estava vivendo, estava apenas sobrevivendo. E sobreviver é muito diferente de viver. Sobreviver é estar morto com a aparência de vivo.

Enquanto tomávamos nosso café, dialogávamos algumas coisas, se é que era possível considerar aquilo um diálogo. As respostas eram sempre curtas e com uma voz quase inaudível. Por um momento cheguei a pensar que aquele homem não deveria falar há muito tempo e, por isso, suas respostas eram mais com os olhos do que com as palavras. Provavelmente ele também aprendeu a ver as perguntas nos olhos das pessoas, por isso nos lançava aquele olhar convidativo como quem dizia, “podem sim chegar até aqui!” Um homem que aprende a dialogar com os olhos certamente é um homem que já se decepcionou muito com as palavras. Pelo menos com as palavras faladas. E, assim, seguiu-se este suposto diálogo por alguns minutos. Sempre com as melhores respostas chegando dos olhos muito mais do que da boca.

Ao me despedir não falei nada. Preferi usar a forma de comunicação que parecia ser a preferida daquele senhor, ou seja, o olhar. E com os olhos tentei dizer: “foi um prazer conhecê-lo”. Como resposta, recebi o mesmo olhar que ele dirigira a mim quando lhe entreguei o biscoito e o iogurte. Acho que aquele era o olhar que dizia: “muchas gracias!”.

MAD


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mad nA estraDa: As veias abertas de uma América que não é a minha




Mad nA estraDa: As veias abertas de uma América que não é a minha

No momento que digito este texto, percorro um caminho que vai da cidade de Santa Cruz de La Sierra até Sucre, ambas na Bolívia. Faço este trajeto em um ônibus de manutenção no mínimo duvidosa, que levará aproximadamente 15 horas para percorrer um trajeto de pouco mais de 600 km. Isso porque a estrada é bastante sinuosa e pouco conservada (para não dizer precária), o que faz com que esta etapa da viagem ganhe uma pequena pitada de emoção.

As várias cruzes colocadas ao longo do trajeto dão requintes de terror ao enredo da viagem. Só espero que estas cruzes não representem outros ônibus que tenham, eventualmente, passado por aqui. Porém, não escrevo para falar das condições do ônibus, das condições da estrada, tampouco da decoração não muito agradável de cruzes. Escrevo para falar dos diferentes caminhos que cruzam esta estrada. Caminhos de vida que, de tão diferentes do meu, às vezes, cometo a besteira de pensar que não são vida, nem mesmo caminhos.

A imagem de miséria à beira da estrada, e todos os outros males resultantes de um país que foi covardemente  saqueado ao longo de muitos anos, é algo que não se encaixa no meu conceito de viver. De qualquer forma, eles vivem. E é exatamente isso o que me fascina. Ver seus lindos rostos com traços indígenas, suas vestes tipicamente locais, alguns costumes ainda intocáveis, tudo isso me faz perceber que algo ainda resiste por aqui. Faz-me perceber que a artificialidade estética, as grifes e os costumes importados encontram certos problemas em chegar por estes lados da nossa América do Sul. Tudo bem, isso é muito mais uma questão de condição do que opção, mas ainda assim consigo ver algo de positivo nisso tudo.

Faz-me ver uma América diferente, porém autêntica. Uma América que, infelizmente, já não faço mais parte. Uma América que me foi levada juntamente com os carregamentos de prata e ouro. Em troca, sobraram este monte de espelhinhos que me mostram nada mais do que minha ignorante vaidade. Queria, neste momento, poder ser um pouco mais Sul-Americano, ter traços de índio, ter história no sangue, mas, infelizmente, não posso. Não posso porque lembro quem eu sou cada vez que me olho em um daqueles espelhinhos que me foram deixados.

E assim vou seguindo minha viagem. Porque se no meu passaporte consta que sou um Sul-Americano, o mínimo que devo fazer é tentar conhecer sobre aquilo que supostamente eu sou. E, embora eu tenha mais me desencontrado do que me encontrado por estes caminhos, eu prefiro me perder buscando aquilo que sou do que me achar sendo aquilo que nunca fui.

Obs.: A foto em questão foi tirada de uma senhora com trajes tipicamente andinos. Ela trabalhava vendendo doces que carregava em uma pequena cesta. Quando oferecidos para mim e para meu amigo, decidimos comprar alguns. Aproveitamos para tentar estender o que seria um breve contato, mas, desde o princípio, percebemos que a mulher era bastante tímida. Pedimos para tirar uma foto e ela aceitou, sempre com muita timidez. Acho que os contatos que vão além daqueles exigidos durante uma simples venda de doces não costumam ser muito rotineiros na vida daquela mulher. Pelo menos não com estranhos vindo de outros lugares. Mesmo assim, no momento exato do click da foto, pude perceber um discreto movimento para o que seria uma pose. Algo muito sutil por trás de um comportamento predominantemente tímido. Talvez, naquele breve momento, ela tenha se permitido pensar um pouquinho mais nela mesma e, quem sabe, até tenha experimentado um segundo daquela leve brisa de felicidade contida na novidade. E mesmo que os olhos dela ainda se mostrassem cansados, pude ver no fundo deles que talvez, naquele momento, ela tenha se sentido um pouco mais visível para os olhos de um mundo que majoritariamente a considera invisível.

MAD
(Foto tirada por Gilliard Lach) 


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Mad nA estraDa: O Viajante e sua Mochila



Mad nA estraDa: O Viajante e sua Mochila

Viajante:
__ Pronto, acabei! Acho que não estou esquecendo nada.

Mochila:
__ Tem certeza? Sempre é bom dar uma última conferida.

Viajante:
__ Pois é! Você tem razão. Aliás, você sempre tem. Vou conferir mais uma vez. Deixe-me ver... hummm. Roupas para o frio. Saco de dormir. Manta térmica. Uma lanterna. Um livro de poesias. Um de “loucuras”. Um caderninho em branco para eu anotar as poesias e loucuras que não estiverem contidas nos livros. Pronto! Está tudo ok.

Mochila:
__ Pensa bem. Tem certeza que está tudo aí?

Viajante:
__ É claro que não tenho certeza! Você sabe que eu nunca tenho! Ainda mais se tratando de uma viagem dessas. E você? O que você acha que sabe? Ao invés de ficar aí apenas me olhando e fazendo estas perguntas, por que não me ajuda e diga-me o que mais tenho de levar?

Mochila:
__ É simples! Além do que você já citou, o que mais você acredita que poderá lhe ser útil nesta viagem?

Viajante:
__ Ah! Acho que entendi! Mas isso é loucura, essas coisas não caberiam na mochila.

Mochila:
__ Loucura é você estar conversando com uma mochila! Isso sim é uma loucura! Agora venha cá, abra um pouco mais a mochila, e coloque estas coisas que estão faltando.

Viajante:
__ Tudo bem! Vou tentar não esquecer mais nada desta vez. Bom, certamente eu precisarei de alguma saudade. Sei que ela machuca um pouco, às vezes, mas também sei que ela é uma das fontes de inspiração mais autênticas que existem. Como dizia o poeta, “saudade é pra quem tem”, e já que eu tenho, irei levá-la. Levarei também um pouco de cuidado, afinal, nunca sabemos quando iremos precisar. Uma pequena dose de ânimo, caso, eventualmente, este venha a faltar. Ah! Não posso esquecer-me da loucura que, assim como o cuidado, também nunca sabemos quando iremos precisar. E para finalizar, aquilo que não pode faltar de forma alguma, um “abridor de mente”. É isso mesmo! Um “abridor de mente”. É que nem tudo que eu juntar pelo caminho irá caber na mochila, então, o que não couber, eu colocarei aqui dentro, neste compartimento extra que fica acima do pescoço. Certamente eu ficaria muito chateado se tivesse de deixar alguma coisa pelo caminho pelo fato de a minha mente se encontrar fechada. Pronto! Agora acho que acabei.

Mochila:
__ Olha lá! Acho que você está esquecendo uma coisinha.

Viajante:
__ O quê?

Mochila:
__ E o medo? Você não irá levar o Medo?

Viajante:
__ Ah! O Medo! O Medo não cabe na mochila. Ele está aqui do meu lado o tempo todo. Fica olhando para mim e fazendo umas caretas. Ele quer ir junto. A minha sorte é que a coragem é maior do que o medo. Então ela ficará aqui o segurando para que eu possa seguir viagem. Depois é torcer para que em nenhum momento o medo fique mais forte do que a coragem e se desvencilhe dela. Bom, acho que terminei! Agora que a mochila está cheia eu posso, enfim, fechar o último zíper de consciência e partir.

Mochila:
__ Cheia? Pode estar completa para o momento, mas cheia, nunca. Aqui sempre se arruma lugar para mais alguma coisa. Aqui sempre cabe um pouquinho mais de histórias e, consequentemente, VIDA.

Então o viajante colocou sua mochila nas costas e saiu, mas antes deixou um bilhete que dizia o seguinte: Fui encher um pouco mais a “mochila” e já volto!

MAD

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Observatório de perguntas




Observatório de perguntas

É chegada a noite e eu logo me preparo para algo que já virou quase que um ritual em minha vida. Fico ali, sob as estrelas (ou sua ausência), apenas olhando para o céu.

Fico comigo mesmo por alguns minutos apreciando todos os mistérios que pairam sobre minha cabeça. Penso também na minha aparente insignificância em relação a tudo isso. Contraditoriamente, ao me dar esta dose diária de consciência daquilo que possivelmente eu sou, acabo por me sentir ainda mais vivo. Acabo por me sentir ainda mais presente na minha própria existência e, assim, um pouquinho menos insignificante. Porque não importa o quão grande você queira ou pense ser, afinal, você não será nada se não tiver a verdadeira noção da dimensão do Universo que te rodeia.

Aprecio cada segundo como se fosse a primeira vez que estivesse fazendo aquilo e também como se fosse a última. E, de certa forma, é mesmo a primeira e a última vez, porque o céu nunca é o mesmo céu de uma noite para a outra.

Não me cansa observá-lo todas as noites porque o céu, provavelmente, é o algo visível que mais se aproxima dos meus anseios invisíveis. É impossível olhar para as estrelas e não ficar intrigado com o fato de que aquilo que vejo, ou penso ver, nem sequer existe mais. Como pode algo que vejo não existir se usualmente o que acontece é o contrário, ou seja, geralmente eu não vejo as coisas nas quais eu sei que existem. Então olho para a imensidão negra acima de mim e vejo muitas coisas, inclusive este paradoxo.

Olho para o céu e me pergunto: “até onde vai esta imensidão? ” Porque, para mim, sinceramente, ainda é um pouco inconcebível o conceito de infinito. Olho para ele e penso, “até onde eu poderia alcançá-lo em sua infinitude? ” “Seria o meu alcance infinito, assim como ele? ” Pergunto-lhe também: “há mais alguém por aí? ” E, embora minha pergunta acabe sempre se propagando solitária e sem nenhuma resposta por aquela vasta escuridão de pontinhos brancos, é quase probabilisticamente impossível que em algum lugar “vivo” ela não vá repousar.

Diante de tantas indagações, torna-se inadmissível não dedicar ao menos um momento do meu dia em admirá-lo. Admirar suas cores, sua imensidão, seus mistérios, mas, acima de tudo, admirar suas perguntas sem respostas.

E você, já olhou para o céu hoje?

MAD