Mad nA estraDa: A estupidez
humana não respeita fronteiras
Para aproveitar melhor as 10 h que terei
dentro de um ônibus entre as cidades chilenas de San Pedro de Atacama e Arica,
resolvi escrever este texto sobre algo que chamou muito a minha atenção quando
cruzei a fronteira da Bolívia com o Chile. Chamou-me a atenção o fato de
algumas coisas respeitarem tanto uma fronteira.
É impressionante a diferença que se percebe entre um lado e
outro. Agora, por exemplo, estou em um ônibus muito confortável, rodando sobre
uma estrada boa e com uma relativa facilidade para digitar este texto. E não
estou em um ônibus confortável porque paguei mais por isso, estou em um ônibus
confortável porque aqui, no Chile, os ônibus que vão de uma cidade para outra
são assim.
Já na Bolívia, grande parte dos ônibus estavam em condições precárias.
Sem falar nas estradas, onde em muitas delas os buracos eram tantos que eu
tinha dificuldade até mesmo para manter o computador no colo, quem dirá digitar
um texto. Mas não precisaria nem mesmo entrar em um ônibus em cada país para
perceber estas diferenças, bastaria cruzar a fronteira.
Enquanto que no lado boliviano o posto de migração é no completo
improviso, no lado chileno o tal posto já é bem mais equipado. Sem falar no
asfalto, que começa tão logo se passa para o lado chileno. Tudo isso analisando
apenas os aspectos relacionados à infraestrutura, sem analisar as condições
humanas deste contraste. Se analisarmos as condições humanas, veremos que as
fronteiras limitam muito mais do que um simples ônibus confortável ou uma
estrada boa. Veremos que as fronteiras limitam também oportunidades, dignidade,
esperança, sonhos, enfim, limitam o direito de igualdade que todo ser humano
tem perante o outro. Veremos que de um lado há um povo que sofre muito mais do
que aquele que se encontra do outro lado. Não que o outro lado não sofra, mas
certamente sofre menos.
Vendo todo este contraste, torna-se inevitável eu não me fazer
algumas perguntas. Pergunto-me como pode uma simples linha imaginária ocasionar
tamanha diferença? Ou seria apenas indiferença? Como pode estas delimitações
geográficas saírem dos mapas e entrarem nas cabeças das pessoas? Como pode o
ser humano ser tão limitado a ponto de permitir-se delimitar? Ao me responder
estas perguntas, consigo chegar a uma única resposta: existem muitas coisas que
respeitam fronteiras, talvez a estupidez humana seja uma das únicas que não.
MAD
(Foto por Gilliard Lach)